sábado, abril 08, 2006

O pinheiro...

Aqui em frente vive um pinheiro.

Não é um pinheiro qualquer: é enorme e decerto muito mais velho que eu.

Há anos que o vejo dar pinhas e pinhões, que enche tudo em volta de caruma e que nos abriga do sol em demasia bem como da chuva.

Vive num jardim aqui em frente, tem por companhia flores diversas, uma sebe em volta da rede que os cerca e mais uma dúzia de ciprestes bem mais jovens e recentes.

Ele é imenso, viçoso, possante, talvez como resultado da rega regular do jardim, cresceu e fortaleceu-se como quem se expande equilibradamente.

Já viveu escaldões de Verão, ventos agrestes, enchurradas, suportou obras e também uns quantos descuidos temporários.

Viveu por ali uma ninhada de gatos que afiava as unhas no seu tronco, o qual serviu também para aprenderem a trepar e a cair quando eram principiantes.

Nos seus ramos abriga, ao longo do dia, bandos de pardais de telheiro, pombos e outros pássaros.

No Verão cheira a resina intensamente. Às horas de mais calor, parece emitir ondas de odor ininterruptas.

Hoje vim escrever sobre ele, porque de repente, realizei que este pinheiro imenso foi um dia apenas um pinhãozinho e além disso não se queixa!

29 de Março de 2006

2 comentários:

Isabel José António disse...

É muito bonito quando alguém está suficientemente desperto para VER um pinheiro, uma flor ou uma semente e dar-se conta da grandiosidade da dádiva que cada SER faz a toda a criação... Os humanos devem ser os únicos que são rabugentos relativamente à necessidade de contribuirem também de si...

Isabel

Isabel José António disse...

O pinheiro é uma árvore e esta encerra o maior dos simbolismos. Tem as suas raízes na terra funda e suja. Transmuta água, ingredientes subterrâneos em força da madeira grossa e forte. Dá flores e fornece oxigénio para todos sem distinguir a quem dá (dá como o Sol). Aparecem as folhas, as flores e os frutos. São as manifestações mais elevadas da sua natureza.

O ciclo completa-se quando um pequeno pinhão, caindo na terra nela se enterra e vem a transforma-se num outro pinheiro.

Muito bonito e simbólico.

Um abraço.

José António