terça-feira, abril 28, 2009

Da Solidão

Liliana, aos primeiros raios de sol, sentada perto da sua gruta meditava e tomava nota no seu pequeno caderno, como se falasse ou escrevesse para alguém:

Cada ser humano é um mundo e uma solidão muito grande.
Paradoxalmente, é deste lugar solitário e íntimo, que posso falar com qualquer um de vós, de forma aberta, sabendo que desde a vossa solidão, vocês me escutam.
Deixemo-nos de enganos e ilusões, todos nós, buscamos os outros, são eles que nos dão um sentido, o único.
E isto é tão verdade para nós, como para Deus, ou Divindade, ou Energia, ou Vida, ou Luz, ou o Imanifestado, ou o que lhe quiserem chamar, ou dizer. Se acaso assim não fosse, não teríamos surgido...
Às vezes chego a pensar que fomos criados por um Deus que já estava a ficar aborrecido de estar sózinho e de Ser Tudo e Nada.
É sempre de um ponto na solidão que tomo consciência, que olho a periferia e me descubro, real, concreta, com este corpo animal, com uma personalidade e tudo...
A minha consciência devia impor-se à minha forma, mas esta tem ares de quem sabe tudo, ou quase tudo.
Bem vêm, eu sou a testemunha de mim mesma e desta forma é que falo aqui contigo...
" Tu que me lês, não és nem mais nem menos do que eu, assim, sós, no nosso silêncio interior.
Já viste como aqui tudo é tranquilo?
Lá fora é que é tudo agitado e tudo à pressa.
Aqui temos a eternidade e um lago que nos serve de espelho.
Meu irmão, aqui nunca se faz tarde ou é cedo demais.
Aqui, é sempre agora, a cada segundo."


Liliana


Lisboa, 28 de Abril de 2009

segunda-feira, abril 20, 2009

Viagem

Foto da wikipédia


Viajar,
pela vida, nesta terra.

Actores
e espectadores de uma peça.

Trazer
sempre um sorriso na lapela .

Confundir-se
com a própria Primavera.




Lisboa, 20 de Abril de 2009.

sexta-feira, abril 03, 2009

A Calma

foto da wikipédia



Liliana experimentava uma estranha calma.
Não sabia de onde, ou como tinha surgido,simplesmente viera.
Talvez por ter pensado que já perdera o medo de morrer.
Talvez por já se ter ajoelhado e prostrado por terra,fruto de desepero.
Talvez por já ter experimentado o peito cheio e imaginado que abraçara toda a gente, sem excepção.
Talvez por ter ardido toda.
Talvez por se ter entregue sem receio a uma e outra causa.
Talvez por ser esse o seu jeito,o seu modo de ser...talvez... A calma viera.Ficara.
O estranho começava a ser ela não se ir embora.
Liliana observava-se.
Fazia tudo igual, mas dentro de si sabia que não era mais a mesma.
Quantas vezes morrera? Quantas vezes já renascera dentro dela?
Era esta densidade que lhe tinha dado o mérito desta calma?
É que até estas perguntas, não tinham importância, eram uma espécie de entretém, como quem faz palavras cruzadas.
Sabia-se antiquíssima...
Os homens são crianças, pensava.
Ocorriam-lhe assim frases...
Olhava e via. O ouro e prata jorravam das folhas de hera, nas paredes de muros velhos. Olhava o céu azul e era como entrar por mar adentro. O calor da tarde fazia-se sentir sem ser demasiado.
Liliana agradecia cada passo.
Estava viva e consciente. Sabia que cada movimento seu, interferia com tudo o resto, mas não a paralisava. Tinha energia.
Amava cada pedra, cada mágoa, cada perca, e a energia sobrava.
A natureza cantava-lhe. O seu coração, ás vezes, parecia que ía explodir de alegria, com tamanha beleza...
Mas era só uma pequena exaltação dentro daquela calma...


( texto escrito em 16 de Março de 2007)
Lisboa 3 de Abril de 2009