quarta-feira, abril 12, 2006

Em cada dia, mais um dia...


Liliana tinha uma espécie de diário, um bloco velho com papel quadriculado, onde tomava notas de pensamentos, ideias e até escrevia cartas que nunca daí saíam.


Frequentemente divagava, pegava no bloco e voltava a fechá-lo tal e qual o abrira... Observava como os pensamentos são velozes, não se deixando prender assim tão facilmente.

Como seria descrever o voo dum pássaro a percorrer mundos sem fim? Planando sobre tudo o que acontecia, vendo-se a si,vendo com os olhos da própria vida?

Estava tudo sempre tão certo...

Visto assim, era fácil, tão fácil que parecia até ridículo.Era só viver e pronto.

E o paradoxo era ser isso o mais difícil!

Como é que, em cada dia, tínhamos um dia novinho em folha e acabávamos sempre por “borrar a pintura”?!

Liliana começara a escrever.

Tinha um bando de palavras preso na garganta, outro na ponta dos dedos...

Pensava: “soltaram-se e desde então é o que se vê...”

E sorriu a mais um dia.


Liliana, 12 de Abril de 2006

1 comentário:

Isabel José António disse...

E de repente vamos ao bloco quadriculado e os textos e apontamentos lá deixados ganham vida. Parare o Pinóquio, boneco de madeira, de vida animado.

De lá saem mundos, dimensões, planos e outras existências. Saem todas as cores, partituras, composições e outros maravilhamentos da alma.

Porque será que a tampa se destapou, Liliana?...

Oxalá nunca mais volte para o seu lugar de tapar, o conteúdo, a essência.

Um abraço

José António