quarta-feira, setembro 16, 2009

A CIDADE E O CAMPO

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Liliana ausentara-se por uns tempos da sua gruta e agora que estava de regresso, levantara-se cedo para aproveitar bem este dia do final do Verão.

Acordara antes dos pássaros, antecipara-se à retirada dos caracóis e tinha ido até à colina, para de lá, ver o nascer do sol.
Ali havia um miradouro natural, em semi-circulo, cheio de flores a bordejarem a encosta. Uns cepos grandes, de árvores antigas, serviam de bancos e os maiores até podiam servir de mesas.
Aquele era um sitio priveligiado e era tão bom estar de regresso...pensava Liliana, enquanto subia a ultima ladeira que daria acesso a uma paisagem maravilhosa.

Era um dos sítios para onde gostava de ir meditar, fazer uma sesta nas tardes quentes de Verão, ou fazer um lanche para retemperar as forças aquando da apanha das flores e folhas para os seus chás.

Uma vez lá, pensava na Cidade, no movimento, nas luzes e naquela azáfama que vista de longe suscitava a imagem daquelas borboletas que são atraídas pela luz.

Havia lá alguma luz que se pudesse comparar à do sol?
Havia lá algum movimento que se pudesse comparar aos movimentos que o vento provocava, do oscilar ligeiro da vegetação e ao ondular das copas das árvores, até ao fustigar das pedras das encostas que rebolavam quando bem calhava, nas tempestades de Inverno?
Havia lá alguma vez as suaves nuances e tonalidades da mesma cor como ali? Desde os verdes mais intensos aos verdes quase azulados, dos azuis cristalinos da água corrente a todos os tons do céu, dos cremes aos castanhos passando pelas cores do fogo, ás pinceladas de cores dadas pelas plantas conforme as flores.

Como sentira saudades..., na cidade vira o céu em tiras mais estreitas ou largas conforme a altura dos prédios..., era um sorriso que lhe nascia ao ver um largo ou uma praça.
Compreendia o conforto dos amigos por perto, da vizinhança e da família, da segurança do grupo. Mas quantos não se sentiriam no meio de tantos, tão isolados? O conforto da modernidade, não sendo desprezível, tinha no entanto contra, os materiais utilizados, por vezes até tóxicos para a saúde.

A cidade que tinha sido erigida como um marco do progresso alcançado, talvez também se tivesse tornado o lugar do esquecimento, o sitío para onde as pessoas tinham ido e esquecido.

Quem eram de facto?
O que faziam ali?
Porque é que ali estavam?

Da penumbra da noite nasceu a madrugada e desta o nasceu o dia.

Liliana, sentada, observava a movimentação, a subtil dança, a suave mudança de um contraste imenso entre os tons, sons e odores da noite e os de outro dia...era este o cenário, palco da natureza...e tudo parecia seguir num crescendo de espectativa...até o seu coração parecia bater mais acelarado...

De pé já, Liliana viu então nascer o sol e abriu o seu coração a mais um novo dia.