Liliana saíu da gruta, espreguiçou-se, respirou fundo e correu até ao lago, na clareira.
Atirou-se, mergulhou.
Quando veio à tona parecia um peixe...
Saíu escorrendo água, procurou um lugar ao sol onde adormeceu e secou.
O dia ía decorrendo em serena tranquilidade.
Nem o ar era em demasia, nem o calor, nem o canto dos pássaros, nem a fome apertava. Nada.
Liliana sentou-se encostada a um tronco. O que sentia era tão estranho...
Olhava-se e via-se a si mesma.
Olhava de um lado e ardia, olhava do outro e era um peixe a abrir a boca fora de água.
O som que isto fazia, não se ouvia.
Ainda pensou se isto seria um sonho, ou se tinha ficado esquecida, debaixo de água.
Loucura, pensou, que falta fazem os espelhos...
Beliscou-se e sentiu, mas via-se a beliscar-se a si mesma...
Decididamente, hoje não estou em mim!...pensou, abanando a cabeça.
Mas logo a seguir, sorrindo-se, pensou também:
Pois não...nem sei como é que hoje o tempo passou!
Encolhendo os ombros, lá regressou à sua gruta e sorria.
Liliana, 10 de Julho de 2006
(As fotos em espelho são de uma flor de Maracujá, também conhecida como "Passion flower").