Foto de INS Liliana interrogava-se, como quem deslinda enigmas, em tudo procurando um sentido, desatando os nós das coisas...
Descortinava ás vezes como que uma teia de um grande puzzle...
Havia uma espécie de virus a corroer-lhe o veludo azul dos dias...
Na véspera, antes de se deitar, enquanto se penteava, fez desfilar rapidamente, no écran da memória, as histórias que sempre lhe causavam dor.
E perguntou-se: "Mas o que é que faz doer? O que é que dói ainda ?"
Como saída de uma varinha mágica invisível, veio a resposta:
"A distância, a ausência, a separação..mas isso... não existe, é ilusão!"
A sensação era: "Onde acabo eu? Onde começas tu?"
A compreensão disto foi impressa celularmente, vivida e completamente assimilada:
"Nós SOMOS... Integrada e integrante, sem espaço algum, quem olha e quem vê."
"A distância é ilusão e eu estou dentro de um sonho, daí a dor!"
Nem queria acreditar!
“...E fartei-me eu de ler isto! ... Mas só agora é que sei, ...sinto-o ainda!...”
"Não há sonhos impossíveis!"
E resumiu, escrevendo...
Estava feliz.
Dormiu.
Sonhou com nuvens coloridas, luminosas e translúcidas, que revolteavam e rodopiavam lentamente num fundo de singular sonoridade.Eram vida em movimento...
Foto de INS
“Como estou leve e feliz!” - exclamou ao acordar no outro dia.
Ainda mal despontava o dia, já Liliana tinha saído da gruta, calcorreando uma distância considerável.
Naquele monte, costumava encontrar muitas ervas para os seus chás.
Agora, na Primavera, havia flores que eram igualmente boas para infusões.
Conhecia o sítio muito bem.
Um recanto onde se abrigar do sol, um outro por onde corria um riacho...
Entre árvores e arbustos ía deambulando, reconhecendo ervas comestíveis e outras, daninhas.
Chegava a conhecer onde havia ninhos todos os anos, tocas, sítios por vezes disputados por serem mais protegidos ou abrigados.
Naquela beleza, calma e tranquila, costumava Liliana fazer as suas preces logo ao nascer do sol, de cada vez que ali ía.
Havia um lugar mais pedregoso, onde umas árvores formando um semi-círculo, protegiam quantidades imensas de amores-perfeitos.
Era o sítio onde costumava meditar, agradecer a beleza imensa que podia perceber.
Da vida, tinha ali a expressão máxima, segundo o que podia compreender.
Não havia uma pedra que não estivesse no sítio, uma folha que oscilasse em demasia, uma for aberta antes de tempo. Tudo estava certo.
Principalmente desde o dia anterior, tudo estaria certo para sempre.
Sentada, de olhos abertos, postos num infinito qualquer, fez uma oração a Deus e aos Amores-Perfeitos:
Ajudai-me a temperar esta aflição
O coração à boca de explodir
A vida à beira da paixão
Teu nome É:
“Amor é uma flor a sorrir”...
De um lado, sentiu um vento ligeiro, do outro, ouvia o sino, lá longe, na aldeia.
Iria lá em breve, qualquer dia... “Tenho tempo” – pensava – “tenho todo o tempo do mundo”.
“Então, porque é que tenho tanta pressa, ás vezes?” - perguntava-se de novo.
Sorrindo, ía pensando:
“Esta mente é tramada mesmo, não pára!..Também, se não fosse a pergunta de ontem...
Está um dia lindo!"
Liliana, 18 de Maio de 2006