Liliana ausentara-se por uns tempos da sua gruta e agora que estava de regresso, levantara-se cedo para aproveitar bem este dia do final do Verão.
Acordara antes dos pássaros, antecipara-se à retirada dos caracóis e tinha ido até à colina, para de lá, ver o nascer do sol.
Ali havia um miradouro natural, em semi-circulo, cheio de flores a bordejarem a encosta. Uns cepos grandes, de árvores antigas, serviam de bancos e os maiores até podiam servir de mesas.
Aquele era um sitio priveligiado e era tão bom estar de regresso...pensava Liliana, enquanto subia a ultima ladeira que daria acesso a uma paisagem maravilhosa.
Era um dos sítios para onde gostava de ir meditar, fazer uma sesta nas tardes quentes de Verão, ou fazer um lanche para retemperar as forças aquando da apanha das flores e folhas para os seus chás.
Uma vez lá, pensava na Cidade, no movimento, nas luzes e naquela azáfama que vista de longe suscitava a imagem daquelas borboletas que são atraídas pela luz.
Havia lá alguma luz que se pudesse comparar à do sol?
Havia lá algum movimento que se pudesse comparar aos movimentos que o vento provocava, do oscilar ligeiro da vegetação e ao ondular das copas das árvores, até ao fustigar das pedras das encostas que rebolavam quando bem calhava, nas tempestades de Inverno?
Havia lá alguma vez as suaves nuances e tonalidades da mesma cor como ali? Desde os verdes mais intensos aos verdes quase azulados, dos azuis cristalinos da água corrente a todos os tons do céu, dos cremes aos castanhos passando pelas cores do fogo, ás pinceladas de cores dadas pelas plantas conforme as flores.
Como sentira saudades..., na cidade vira o céu em tiras mais estreitas ou largas conforme a altura dos prédios..., era um sorriso que lhe nascia ao ver um largo ou uma praça.
Compreendia o conforto dos amigos por perto, da vizinhança e da família, da segurança do grupo. Mas quantos não se sentiriam no meio de tantos, tão isolados? O conforto da modernidade, não sendo desprezível, tinha no entanto contra, os materiais utilizados, por vezes até tóxicos para a saúde.
A cidade que tinha sido erigida como um marco do progresso alcançado, talvez também se tivesse tornado o lugar do esquecimento, o sitío para onde as pessoas tinham ido e esquecido.
Quem eram de facto?
O que faziam ali?
Porque é que ali estavam?
Da penumbra da noite nasceu a madrugada e desta o nasceu o dia.
Liliana, sentada, observava a movimentação, a subtil dança, a suave mudança de um contraste imenso entre os tons, sons e odores da noite e os de outro dia...era este o cenário, palco da natureza...e tudo parecia seguir num crescendo de espectativa...até o seu coração parecia bater mais acelarado...
De pé já, Liliana viu então nascer o sol e abriu o seu coração a mais um novo dia.
quarta-feira, setembro 16, 2009
A CIDADE E O CAMPO
segunda-feira, junho 15, 2009
A AMIZADE
Não estava á espera disto..., disse alto Liliana, pensando com os seus botões.
O carinho que por compaixão lhe manifestavam era igualmente retribuído, mas nem sabia bem como dizê-lo.
Os seus amigos muitas vezes a tinham deixado com um sorriso no coração.
Porém, desta vez tinham-na deixado tão espantada como naquele dia que tinha ficado a olhar uma árvore sem saber o tempo que tinha isso durado.
Pensara na àrvore quando era semente,como crescera, as estações que tinham passado por ela, os frutos que dera,depois na textura, na seiva que lhe corria nas entranhas,até que se perdera nas rugas da sua casca,como quem sabe daquela madeira as moléculas de que é feita...
...era assim aquela amizade.
Não sabia como dizer-lhes,talvez os conhecesse de outras vidas,por isso ao pensar nos seus amigos sorria-lhes.
O tempo escorria pelo calor dos dias.
Liliana por fim, decidiu que lhes ía escrever.
Mas como agradecer a Amizade, se ela é recíproca e não havia nada que pudesse acrescentar?
Então, fez um bilhete desenhado com uma flor de Oliveira:
e escreveu:
"A nossa Amizade,
é como uma árvore,
onde as nossas Almas,
podem descansar."
Este post é uma resposta ao blog :
http://reflexoessentidas.blogspot.com/
junto com um abraço e um sorriso.
quinta-feira, junho 04, 2009
VIDA
Liliana, de manhã cedo, quando o tempo estava bom, saía para fazer a sua meditação ao ar livre.
Havia um sítio que em especial a atraía. Era um recanto, em semi-círculo, a meio de uma colina.
Tinha uma vista fantástica e estava bordejado de flores.
Para além da meditação, do apaziguamento, da vista, do colorido e aromático sítio, ou talvez como resultado de tudo isso, Liliana, sentia-se plena de gratidão para com a Vida.
Inspirada, abriu os seus braços e disse :
Vida que És,
Sê em mim
Completamente.
Enche-me de Ti
E cumpre-Te
Plenamente.
Como o Oceano,
Que é a expressão máxima
Da água.
Como o espaço,
Que é a expressão máxima
Do firmamento.
Como o incêndio,
Que é a expressão máxima
Do fogo.
Como a eternidade,
Que é a expressão máxima
Do tempo.
Sê,
Para que possa rever-me
Neste sonho
E
Sorrir de me sonhar,
Assim,
Contente.
Já a caminho da sua gruta, Liliana questionava-se:
Como partilhar estes estados de profunda entrega mística à Vida?
Por um lado eram-lhe gratificantes e suficientes, mas por outro seria uma alegria maior se outros pudessem usufruir de semelhante bem-estar.
E continuava:
Partilhar, é vir a correr, como criança, contar aos outros a novidade, pois que então não se duvida que eles são partes de nós...
Que dia fantástico...murmurava ainda ao chegar à sua gruta.
Lisboa, 3 de Junho de 2009
quarta-feira, maio 27, 2009
O Carreiro
Liliana olhava com atenção aquela formiga trabalhadora que transportava um peso maior do que o do seu corpo...e como ela andava ligeira!
O carreiro era novo por ali, talvez tivessem mudado de casa, pensou.
Uma atrás da outra, cruzando-se com as que vinham em direcção contrária, reconhecendo-se ou cumprimentando-se durante breve paragem, não paravam para descansar à sombra ou debaixo de uma folha quando o sol estava a pique.
Impressionante, pensava, até parecem tentáculos de um só ser, onde não há lugar para se ser diferente, para além da especialização da tarefa de que se incumbiam, umas operárias, outras gueerreiras, outras ainda cuidando do armazém e do formigueiro e a trabalharem o tempo todo.
Isto é a sociedade perfeita, para o nível de consciência deste bicho, dizia pensando alto.
Todos os sentidos e percepções existem àquele nível. A formiga quando sobe um tronco não cai porque não sabe o que é isso...só há aquele plano, e como tal a Vida ampara-a no plano onde ela vive.
Talvez que a "gravidade" ou "peso" das ideias delas seja a obscessão do caminho e de tal forma é tão concreto que as contém...
Da mesma forma, quem sabe se não era a "leveza" ou "anti-gravidade" dos pensamentos dos místicos o que fazia com que levitassem...
Seja como for, ía cogitando, estes pequenos seres merecem-me toda a atenção...através deles, posso ver os caminhos idênticos que, por rotina, também costumo fazer...
Não fora o ter-me retirado há muito para esta gruta, quem sabe viveria ainda também numa espécie de rebanho humano, onde a individualidade se extingue, não pela nobreza da defesa do que é um bem para todos, mas pela opressão dos que vendo mais, se valem da cegueira colectiva e que tocando flauta, a todos encaminham para o precipício, pensando ilusoriamente que não vão junto...
Somos uma família humana, um formigueiro, ao nosso nível, mas temos a capacidade do raciocínio e da consciência, que nos permite escolher sair fora do carreiro.Subir a um outro nível, ter outra percepção e correr o risco de ser tomado de ponta por tentar avisar o resto do formigueiro da VERDADE, do que se passa com a sua vida, dos perigos que se avizinham lá á frente,... que o formigueiro está perigosamente demasiado perto do rio para quando vierem as cheias...enfim, Liliana pensava assim nos paradoxos da vida.
Nas aldeias, havia ditados de sabedoria, que aos poucos íam sendo esquecidos.
Tinham em poucas linhas, autênticas lições do conhecimento.
Liliana lembrava-se de alguns, mas o que mais retinha era aquela noção de que muita gente junta não se salva, ou então de que, quando todos te dizem sim, o melhor é perguntares-te o porquê disso, pode acontecer que algo de muito errado se possa estar a passar contigo... Eram noções que faziam eco cá dentro e que não mais se esqueciam.
A Natureza é um livro aberto que temos ao nosso dispor..., ía prosseguindo no seu discorrer pelo campo fora.
Quem sabe eu não sou apenas o sonho de uma formiga antiga?
O fim do dia chegava, com um lindo pôr do sol.
Liliana voltava por um carreiro à sua gruta, pensando como se enraízam em nós os hábitos, como se fossem àrvores..., tal como as noções dos ditados populares,...bem..., pensou sorrindo : ...esta dos hábitos fica para pensar amanhã...
terça-feira, abril 28, 2009
Da Solidão
Liliana, aos primeiros raios de sol, sentada perto da sua gruta meditava e tomava nota no seu pequeno caderno, como se falasse ou escrevesse para alguém:
Cada ser humano é um mundo e uma solidão muito grande.
Paradoxalmente, é deste lugar solitário e íntimo, que posso falar com qualquer um de vós, de forma aberta, sabendo que desde a vossa solidão, vocês me escutam.
Deixemo-nos de enganos e ilusões, todos nós, buscamos os outros, são eles que nos dão um sentido, o único.
E isto é tão verdade para nós, como para Deus, ou Divindade, ou Energia, ou Vida, ou Luz, ou o Imanifestado, ou o que lhe quiserem chamar, ou dizer. Se acaso assim não fosse, não teríamos surgido...
Às vezes chego a pensar que fomos criados por um Deus que já estava a ficar aborrecido de estar sózinho e de Ser Tudo e Nada.
É sempre de um ponto na solidão que tomo consciência, que olho a periferia e me descubro, real, concreta, com este corpo animal, com uma personalidade e tudo...
A minha consciência devia impor-se à minha forma, mas esta tem ares de quem sabe tudo, ou quase tudo.
Bem vêm, eu sou a testemunha de mim mesma e desta forma é que falo aqui contigo...
" Tu que me lês, não és nem mais nem menos do que eu, assim, sós, no nosso silêncio interior.
Já viste como aqui tudo é tranquilo?
Lá fora é que é tudo agitado e tudo à pressa.
Aqui temos a eternidade e um lago que nos serve de espelho.
Meu irmão, aqui nunca se faz tarde ou é cedo demais.
Aqui, é sempre agora, a cada segundo."
Liliana
Lisboa, 28 de Abril de 2009
segunda-feira, abril 20, 2009
Viagem
Viajar,
pela vida, nesta terra.
Actores
e espectadores de uma peça.
Trazer
sempre um sorriso na lapela .
Confundir-se
com a própria Primavera.
Lisboa, 20 de Abril de 2009.
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